segunda-feira, 2 de março de 2015

Porque sim, então não. Por que não? Porque sim.



Veja bem, meu amor,
resolvi te dizer (nesta tola canção)
que discordo de tudo
e achei absurdo
por um fim sem razão.
Por que não?!
Será que daqui a um ano
você vai perceber que o seu plano
só me machucou?
Porque sim.
Ai de mim!
Que mudei o cabelo,
aceitei o seu vício,
me mudei pro verão!
Por que não?!
Você acha que é certo
me deixar sem um teto,
e roubar minha vida
como rouba o ladrão?
Por que não?!
E ainda me culpa
por cada deslize,
por cada motivo da separação!
Porque não!
Você acha que é pouco
todo esse sufoco,
essa transpiração?
Você acha bonito
viver escondido
e de desilusão?
Por que não?!
Por que não me sequestra
e me vira do avesso
sem explicação?
Por que não?!
Vive nessa agonia
e só finge alegria
tão distante de mim.
Porque sim.
Veja bem, meu amor,
porque não
não aceito,
e com outro me deito,
mas só penso em você.
Porque sim!
Você diz porque não
e ao meu coração
resta sobreviver.
Foi em vão?
Digo não!
Você vive em mim.
Não aceito o fim.
Te suplico e insisto no sim:
Por que não?



terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

É meu modo de ter paz.



Eu sei que é insolente
(imatura e inconsequente)
essa mania que eu tenho de voltar atrás.
Mas não consigo de outro jeito,
devo ter algum defeito.
Me ensina, como é que você faz?
Me perdoa todo o efeito
que eu causo no teu peito,
é meu modo de ter paz.
Preciso saber que eu vivo aí dentro,
pois em mim tua presença jaz.
Me perdoa, eu não aguento.
Preferiria te esquecer, mas...
É meu modo de ter paz.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Direito

Preciso te contar em silêncio
Que pra explicar a nossa história
Quebrei com as regras
Parei no tempo verbal
Soprei ao vento um aviso final
Desliguei o rádio e mudei de canal
Enxerguei luz no escuro
Pro meu bem quis teu mal
Reinventei a palavra
Fiz do verbo o sujeito
Rasurei o imperfeito
Inverti o plural
Imprimi no meu peito
“nosso amor é um direito”
Mas não deve ter jeito
Amar assim é fatal.

terça-feira, 27 de maio de 2014

De passagem.

Chris, sou eu de novo. Ultimamente tenho pensado muito em você. Na verdade, eu acho que nunca deixei de pensar. Você é mais rápido do que o tempo: enquanto ele apenas passa, você vai e vem. Volta antes mesmo de ter ido. A verdade é que você nunca vai, você está sempre aqui. Em tudo. Se fechar os olhos posso te abraçar e sentir o seu cheiro de cansaço. Chris, pra nós o tempo não existe mais. Estamos presos no ontem. Presos naquela tarde de verão, naquele colchão surrado e naquela canção triste. Às vezes sinto mais do que a sua falta, sinto a sua presença em mim. Mary.

sábado, 24 de agosto de 2013

Eu sei.

Chris, ninguém precisa me lembrar disso. Eu sou conscientemente ciente da nossa impossibilidade. E é por isso que continuo te encontrando nos meus sonhos. Lá tudo bem. "Lá" é o nosso lugar secreto. Mary.

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Bilhete (lembrete).

Chris, O seu destino você escreve em papel de rascunho, enquanto o meu foi registrado em cartório antes mesmo de eu nascer. De um ponto de vista molar, nossos elementos não se combinam (nem induzir o contato resolve a questão). Molecularmente, é claro que nossos átomos reagem entre si (e basta o menor estímulo do mundo pra desencadear uma reação em cadeia poderosa). Nós dois somos intragáveis um pro outro, eu sei. Por outro lado, indissolúveis. Nada separa a minha inspiração da simples menção do seu nome, do resgate da sua cor na minha memória. Já parei de reclamar. Me tornei resignada desde o dia em que você me ensinou a arte escondida na imutabilidade das coisas. Pra mim, ambíguo até demais. Mary.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

No portão.

Quando ele atravessou aquele portão, foi como se tivessem roubado-lhe o calor do corpo. Então a força dos braços também desapareceu, e ela sentiu a visão turva. Era o colorido do dia tomando nuances de cinza. Vagarosamente. Doloridamente e até a próxima reanimação.