quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Metade de mim fez 19 anos...!


Metade - Oswaldo Montenegro
Que a força do medo que tenho não me impeça de ver o que anseio. Que a morte de tudo que acredito não me tape os ouvidos e a boca. Porque metade de mim é o que eu grito, mas a outra metade é silêncio. Que a música que eu ouço ao longe seja linda, ainda que triste. Que a mulher que eu amo seja sempre amada, mesmo que distante. Porque metade de mim é partida e a outra metade é saudade. Que as palavras que eu falo não sejam ouvidas como prece nem repetidas com fervor, apenas respeitadas como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimento. Porque metade de mim é o que eu ouço, mas a outra metade é o que calo. Que essa minha vontade de ir embora se transforme na calma e na paz que eu mereço. Que essa tensão que me corroe por dentro seja um dia recompensada. Porque metade de mim é o que eu penso e a outra metade é um vulcão. Que o medo da solidão se afaste, que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável. Que o espelho reflita em meu rosto o doce sorriso que eu me lembro de ter dado na infância. Porque metade de mim é a lembrança do que fui, a outra metade eu não sei... Que não seja preciso mais do que uma simples alegria para me fazer aquietar o espírito. E que o teu silêncio me fale cada vez mais. Porque metade de mim é abrigo, mas a outra metade é cansaço. Que a arte nos aponte uma resposta, mesmo que ela não saiba. E que ninguém a tente complicar porque é preciso simplicidade para fazê-la florescer. Porque metade de mim é a platéia e a outra metade, a canção. E que minha loucura seja perdoada. Porque metade de mim é amor e a outra metade... Também.


Ouvindo: Lost without each other - Hanson

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Vai, Luma! ser gauche na vida.

Há dias em que eu me sinto tão deslocada. Dias como hoje, por exemplo. Como se estivesse no lugar errado, na hora errada, no corpo errado. Olhar em volta e ver que nada combina de verdade com você, olhar pra frente e não ver nada além de incertezas, espiar o passado e não encontrar nada de muito concreto...Dá um medo e tanto!
Sem muita inspiração. Sem muito otimismo. De vez em quando eu fico assim: chata, sem assunto e sem graça. É a preguiça aliada à angústia noturna. Efeitos colaterais como mau-humor, insônia e sarcasmo automático incluídos no pacote. Um luxo!

Música que não sai da cabeça e do coração:

Ney Matogrosso - Poema Cazuza/ Frejat
Eu hoje tive um pesadelo e levantei atento, a tempo
Eu acordei com medo e procurei no escuro
Alguém com seu carinho e lembrei de um tempo
Porque o passado me traz uma lembrança
Do tempo que eu era criança
E o medo era motivo de choro
Desculpa pra um abraço ou um consolo
Hoje eu acordei com medo mas não chorei
Nem reclamei abrigo
Do escuro eu via um infinito sem presente
Passado ou futuro
Senti um abraço forte, já não era medo
Era uma coisa sua que ficou em mim, que não tem fim
De repente a gente vê que perdeu
Ou está perdendo alguma coisa
Morna e ingênua
Que vai ficando no caminho
Que é escuro e frio mas também bonito
Porque é iluminado
Pela beleza do que aconteceu
Há minutos atrás


Ouvindo: Never say goodbye - Bon Jovi

sábado, 12 de janeiro de 2008

Paleontologia comparada

Engraçado como a televisão pode nos oferecer algo produtivo de vez em quando, mesmo que de forma disfarçada. Assistindo pela milésima vez à "Jurassic Park" na globo, meio que naquele estágio dorme-não-dorme, minha percepção nada aguçada da meia-noite captou um diálogo interessante em meio à toda aquela gritaria e ovos de velociraptors. A mocinha da vez, observando as estufas de reprodução artificial, onde dinossauros eram "criados", faz uma pergunta um tanto quanto relevante ao herói da série, cujo nome eu desconheço. Segue o tal diálogo: "- Então é assim que se faz dinossauros?
- Não. É assim que se brinca de Deus."
E não é que essa conversa, aparentemente bobinha, me fez adiar o sono por alguns minutos altamente produtivos!? Intelectualmente falando, porque na verdade, a única coisa que eu fiz foi exercitar os neurônios. Nós gostamos mesmo de brincar de ser Deus. E ele, será que gosta da exibição desses covers mal feitos os quais nos tornamos? Eu não sou a pessoa mais indicada pra falar da existência de um Deus judeu, cristão ou islâmico. Diriam que eu sou mais atea do que crente. O que acontece é que eu ainda não conheço o bastante pra me definir religiosamente. Espiritualmente falando, eu acredito sim na existência de um "Ser Maior". De uma força inicial que controla todo o resto. Será que um descrente total consegue achar todas as explicações de que necessita ,para viver em paz, na ciência dos homens? Acho difícil. Por isso, eu prefiro ter a minha crença pessoal. Uma crença em um Deus tolerante, porém cansado.
Talvez, muito mais em breve do que suspeitamos, recriar dinossauros possa ser possível (ou talvez já seja e ainda não sabemos). Mas seria tolice pensar que somente quando chegarmos à esse estágio Deus ficaria chateado com a brincadeira. Afinal, o que temos feito desde sempre? Brincamos de aniquilar os mais fracos e de extinguir os que nos parecem impuros ou irrelevantes. Cultivamos a morte alheia em campos de concentração de ódio. Colhemos desrespeito nas árvores que fizemos questão de derrubar. Ah! Sinto muito...Vou brincar de outra coisa enquanto eu posso!


Ouvindo: Angra dos Reis - Legião Urbana

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

"A bússola de ouro"

Ontem eu fui ao cinema. Ótimo filme. Bonitinho a beça. A primeira parte de uma trilogia que promete tirar o sono das criancinhas, e pôr muito adulto pra sonhar de novo. Algo sobre uma bússola de ouro e uma garotinha prodígio. Sim, mais uma! Enfim, o que realmente me chamou a atenção no filme foi o fato de as pessoas possuirem uma alma extra-corpórea materializada na forma de um animal, um "Deamon". Como se cada um, na verdade, fossem dois. Uma personalidade dividida em duas partes. E a mágica fica por conta do relacionamento entre essas duas partes. Apaixonante. Pra quem é sensível às coisas fantásticas da vida, um questionamento e tanto! Pra quem é imune às sutilezas das entrelinhas...Uma bela historinha em três partes. Uma pena!
Ursos polares e feiticeiras à parte, ontem foi um bom dia pra colocar as idéias no lugar. Ou talvez um ótimo dia pra mudá-las de lugar. Por mais que eu me esforce pra enxergar além do óbvio, de alguma maneira acabam me forçando a usar um colírio estranho aos olhos, que não faz nada além de embaçar a visão. É tão confuso! Um passo em falso e pronto: acusações e mais acusações. Julgamentos que ferem de verdade. Palavras que poderiam ser inutilizáveis, declamadas com intensidade venenosa. Meu Deus! É o preço que se paga por tentar ser um pouco melhor? Por tentar dar uma chance à honestidade? Sinceramente, eu me cansei de tantos rótulos dispensáveis. Enquanto inocência for burrice e maldade for algo obrigatório, eu prefiro ser tola e desobediente.
E eu volto a pensar sobre os "Deamons". Se fosse mesmo possível ter uma alma em forma de animal, eu gostaria que a minha fosse um pássaro. Pelo menos assim, parte de mim poderia voar e encontrar a liberdade, finalmente.

Ouvindo: A Princess - Javier Navarrete (O labirinto do fauno)

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

I remeeeeeeeber you!

Dormir tarde e acordar cedo. Péssima combinação! Dor de cabeça e mau humor...Típicos. Mas já que eu decidi que isso aqui vai ser bacana, então eu vou fazer um segundo post melhor que o primeiro, apesar de toda a minha marra pós-matinal. São mil coisas as que eu gostaria de postar aqui, mas hoje, definitivamente, eu TENHO que colocar o início de um conto que eu comecei há quase um mês atrás. É algo inacabado, e eu bem sei que coisas inacabadas não devem sair do desconhecido. O que acontece é que eu sinto uma imensa necessidade de escancarar tudo. O bom é que ninguém, ou quase ninguém vai ler isso mesmo...E vai dar na mesma. Anonimato por anonimato, melhor eu escrever enquanto tenho vontade. E não é um bocado de linhas qualquer. Elas fazem algum sentido pra mim...E pra mais uma pessoa. Uma em meio aos seis bilhões que sobrevivem por ai. Lá vai...



Rua 32

1

Aquela, sem dúvidas, fora a travessia mais longa que já fizera. Caminhavam lado a lado, estagnados num silêncio que chegava a ser gritante. Sentia vontade de chorar. Chorava. Sentia vontade de rasgar o peito e entregar a ele, de uma vez por todas, aquele maldito coração que insistia em bater em descompasso. Não conseguia sequer encará-lo. Sentia-se péssima, a pior das criaturas – um exagero permitido em momentos de extrema agonia.
Gostava dele, de fato. Mas não podia negar ao próprio ego a sensação de liberdade e falsa segurança à que estava habituado. Gostava mesmo do seu jeito desleixado e da delicadeza com que a tocava. No entanto, não conseguia esboçar nem mesmo um simples pedido de desculpas por ser tão egocêntrica e egoísta.
Como as palavras permaneciam mergulhadas nas profundezas de sua ignorância afetiva, permanecia calada. E caminhava lentamente em seus pensamentos, acelerando cada vez mais os passos, a fim de acompanhar o desespero evidente de um garoto envolto em desilusões. Ofegante, tentava distinguir as vozes do vento do farfalhar sofrido de dois corações separados por corpos que insistiam na distância como forma de sobrevivência.
Pensou em cessar a caminhada e apertá-lo de uma vez contra a alma. Faltou-lhe coragem. Não era suficientemente adulta para enfrentar as conseqüências que tal ato poderia lhes trazer. Tampouco era criança o bastante para simplesmente ignorá-las. Evitava olhá-lo nos olhos, pois temia encontrar neles as mesmas lágrimas amargas que lavavam seu rosto petrificado.
Não suportava ouvi-lo falar sobre amor, uma vez que não se sentia apta a amar. Desejava poder retribuir todos aqueles meses, semanas, dias, horas e minutos de entrega e dedicação cega. Mas como era incapaz!
Ouvira certa vez em uma canção, que mentir para si mesmo era a pior mentira de todas. E estava certa sobre acreditar naquilo tudo. Agora sabia. Sentia na própria pele que enfrentar a astúcia do coração trazia dores que jamais deixavam de ferir o espírito...
Aliás, essa era uma de suas manias adotadas por insistência pessoal: acreditava sempre no que via ou queria ver. Prontamente, assimilava gestos, falas e sinais. Depois se sentia burra. Odiava a idéia de ter ignorado a possibilidade de uma reavaliação. Palavras nem sempre são ditas para serem ouvidas, e máscaras nem sempre escondem imperfeições.
O ponto é que agora sentia-se arrependida por ter criado uma imagem distorcida de um garoto que apenas tentava, a todo custo, conotar o sofrimento de uma paixão praticamente fantasiosa.


2

Tampouco era dele a culpa pelo desfecho do quase romance. Ia à frente, atordoado e relutante, fingindo uma ilógica força para quem acabara de perder o chão, as esperanças e os sonhos.
Indagava-se a todo instante se teria sido melhor nunca tê-la conhecido, e sinceramente não conseguia chegar à conclusão alguma. Chegara tão perto... Fora capaz de sentir a respiração dela na sua própria, e de confundir seus braços, mãos e cabelos. Por uma fração de segundos ele a possuiu. E a eternidade passara diante de seus olhos negros, refletidos naqueles outros tão amedrontados.
Era tão pequena que cabia em seu abraço. Era tão frágil que cabia em seu alento. Porém, tinha tanta resistência involuntária que era capaz de quebrá-lo em mil pedaços, e de assim espalhá-lo por entre os cômodos vazios de um sonho inacabado.
Tão perto... E agora à distância de alguns centímetros que mais pareciam anos-luz. Não queria tocá-la. Qualquer gesto poderia feri-los mais profundamente. Mas como queria tocá-la! Abafar-lhe o choro, espantar todo o medo e insegurança que ela sentia.
Mal conseguia manter-se erguido sob o orgulho ferido, sob as mentiras que contara durante esses seis meses para si mesmo. Elas iam desmoronando uma a uma, e ele sentia-se tolo por ter depositado inúmeras ilusões em um amor tão vago, tão etéreo... Mas a amava de qualquer maneira, e isso o fazia seguir em frente. Talvez fosse aquele o fim de uma história que por ter começado mal, tinha a obrigação de terminar bem...
Focava-se em pensar que nem tudo era como gostaria que fosse, enquanto passos atrás, ela vinha abraçada à idéia de uma possível reconciliação. Assim que a poeira abaixasse, que o coração acalmasse e que a saudade provasse aos dois que não resistiriam muito tempo separados... Eles iriam se reencontrar (...)


Ouvindo: Hole in my soul - Aerosmith

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

"E no mais fino e doido do seu sentimento pensava: Vou ser feliz!"

Ano novo, vida nova. A mesma conversa de sempre. E como sempre, uma conversa que não leva a nada. Depois de alguns dias de férias forçadas, regadas à muita monotonia e preguiça, resolvi criar este blog. Com uma certa resistência interna, cheguei à conclusão de que não seria tão senso-comum assim escrever um diário virtual. Pode até ser divertido...! Quem não arrisca não petisca! E depois, escrever é uma das minhas paixões. Uma pitada de otimismo cego e... Mãos à obra! Pode até ser divertido...!