domingo, 13 de junho de 2010

POR VOCÊ, FARIA ISSO MIL VEZES.

Eu me atrevo a acreditar em destino, em conjunção estelar, em amor eterno e almas que se completam. Me atrevo, pois ser crente em coisas desse tipo pode fazer com que, ao mesmo tempo, alegria e tristeza sejam extremas, intensas e muitas vezes incontroláveis. Você se sente a pessoa mais feliz do mundo e, de repente, você se torna o mais miserável dos seres humanos. Tudo bem, é a escolha de cada um de nós. Às vezes eu fico vulnerável às peculiaridades do caminho. Me recuso a aceitar que as pedras escondem a paisagem linda que vem logo em seguida. Mas eu continuo. Ora caída, ora de pé, sempre em direção ao meu norte, que por ironia do destino (ou não), desta vez se encontra mais ao sul do que a qualquer outra direção. Mas se é destino não importa. Ficou pra trás mas me alcança, está dormindo mas acorda, machuca mas um dia curará. Eu não me canso de pensar que o que está feito está feito e pronto. Tenho pra mim que o que é meu está guardado, e fui eu mesma quem guardou. Guardei no coração, na alma, na lembrança. E assim que chegar a hora eu mesma vou ser capaz de desembrulhar o pacote, sem a ajuda de ninguém, só com a minha fé. Começo a ver que realmente eu não estou pronta. Não agora, nesse minuto. Mas eu acredito, de uma forma incrivelmente forte, que eu estarei, que eu apenas adiantei o meu destino, e não o perdi pra sempre. Bastará desacelerar um pouco, atrasar os relógios, esperar o momento certo.
Como se um novo muro de Berlin tivesse se erguido em torno do meu coração e separado o antes e o depois do meu achado, eu me divido entre o que aconteceu e o que de mais maravilhoso ainda está por vir. E eu apenas continuo. Continuo a escrever pelo mesmo motivo. Eu sou movida por um combustível tão produtivo quanto o fóssil, mas muito, muito mais renovável. Mais do que isso, um combustível sem fim: eu sou movida pelo amor (o mesmo que eu senti na primeira vez, e o mesmo que eu vou sentir até o meu último suspiro de vida).



"- Quanto tempo demora? - perguntou ele. - Não sei. Um pouco. Sohrab deu de ombros e voltou a sorrir, desta vez era um sorriso mais largo. - Não tem importância. Posso esperar. É que nem maçã ácida. - Maçã ácida? - Um dia, quando eu era bem pequenininho mesmo, trepei em uma árvore e comi uma daquelas maçãs verdes, ácidas. Minha barriga inchou e ficou dura feito um tambor. Doeu à beça. A mãe disse que, se eu tivesse esperado as maçãs amadurecerem, não teria ficado doente. Agora, quando quero alguma coisa de verdade tento lembrar do que ela disse sobre as maçãs."
(O caçador de pipas)