terça-feira, 8 de janeiro de 2008

I remeeeeeeeber you!

Dormir tarde e acordar cedo. Péssima combinação! Dor de cabeça e mau humor...Típicos. Mas já que eu decidi que isso aqui vai ser bacana, então eu vou fazer um segundo post melhor que o primeiro, apesar de toda a minha marra pós-matinal. São mil coisas as que eu gostaria de postar aqui, mas hoje, definitivamente, eu TENHO que colocar o início de um conto que eu comecei há quase um mês atrás. É algo inacabado, e eu bem sei que coisas inacabadas não devem sair do desconhecido. O que acontece é que eu sinto uma imensa necessidade de escancarar tudo. O bom é que ninguém, ou quase ninguém vai ler isso mesmo...E vai dar na mesma. Anonimato por anonimato, melhor eu escrever enquanto tenho vontade. E não é um bocado de linhas qualquer. Elas fazem algum sentido pra mim...E pra mais uma pessoa. Uma em meio aos seis bilhões que sobrevivem por ai. Lá vai...



Rua 32

1

Aquela, sem dúvidas, fora a travessia mais longa que já fizera. Caminhavam lado a lado, estagnados num silêncio que chegava a ser gritante. Sentia vontade de chorar. Chorava. Sentia vontade de rasgar o peito e entregar a ele, de uma vez por todas, aquele maldito coração que insistia em bater em descompasso. Não conseguia sequer encará-lo. Sentia-se péssima, a pior das criaturas – um exagero permitido em momentos de extrema agonia.
Gostava dele, de fato. Mas não podia negar ao próprio ego a sensação de liberdade e falsa segurança à que estava habituado. Gostava mesmo do seu jeito desleixado e da delicadeza com que a tocava. No entanto, não conseguia esboçar nem mesmo um simples pedido de desculpas por ser tão egocêntrica e egoísta.
Como as palavras permaneciam mergulhadas nas profundezas de sua ignorância afetiva, permanecia calada. E caminhava lentamente em seus pensamentos, acelerando cada vez mais os passos, a fim de acompanhar o desespero evidente de um garoto envolto em desilusões. Ofegante, tentava distinguir as vozes do vento do farfalhar sofrido de dois corações separados por corpos que insistiam na distância como forma de sobrevivência.
Pensou em cessar a caminhada e apertá-lo de uma vez contra a alma. Faltou-lhe coragem. Não era suficientemente adulta para enfrentar as conseqüências que tal ato poderia lhes trazer. Tampouco era criança o bastante para simplesmente ignorá-las. Evitava olhá-lo nos olhos, pois temia encontrar neles as mesmas lágrimas amargas que lavavam seu rosto petrificado.
Não suportava ouvi-lo falar sobre amor, uma vez que não se sentia apta a amar. Desejava poder retribuir todos aqueles meses, semanas, dias, horas e minutos de entrega e dedicação cega. Mas como era incapaz!
Ouvira certa vez em uma canção, que mentir para si mesmo era a pior mentira de todas. E estava certa sobre acreditar naquilo tudo. Agora sabia. Sentia na própria pele que enfrentar a astúcia do coração trazia dores que jamais deixavam de ferir o espírito...
Aliás, essa era uma de suas manias adotadas por insistência pessoal: acreditava sempre no que via ou queria ver. Prontamente, assimilava gestos, falas e sinais. Depois se sentia burra. Odiava a idéia de ter ignorado a possibilidade de uma reavaliação. Palavras nem sempre são ditas para serem ouvidas, e máscaras nem sempre escondem imperfeições.
O ponto é que agora sentia-se arrependida por ter criado uma imagem distorcida de um garoto que apenas tentava, a todo custo, conotar o sofrimento de uma paixão praticamente fantasiosa.


2

Tampouco era dele a culpa pelo desfecho do quase romance. Ia à frente, atordoado e relutante, fingindo uma ilógica força para quem acabara de perder o chão, as esperanças e os sonhos.
Indagava-se a todo instante se teria sido melhor nunca tê-la conhecido, e sinceramente não conseguia chegar à conclusão alguma. Chegara tão perto... Fora capaz de sentir a respiração dela na sua própria, e de confundir seus braços, mãos e cabelos. Por uma fração de segundos ele a possuiu. E a eternidade passara diante de seus olhos negros, refletidos naqueles outros tão amedrontados.
Era tão pequena que cabia em seu abraço. Era tão frágil que cabia em seu alento. Porém, tinha tanta resistência involuntária que era capaz de quebrá-lo em mil pedaços, e de assim espalhá-lo por entre os cômodos vazios de um sonho inacabado.
Tão perto... E agora à distância de alguns centímetros que mais pareciam anos-luz. Não queria tocá-la. Qualquer gesto poderia feri-los mais profundamente. Mas como queria tocá-la! Abafar-lhe o choro, espantar todo o medo e insegurança que ela sentia.
Mal conseguia manter-se erguido sob o orgulho ferido, sob as mentiras que contara durante esses seis meses para si mesmo. Elas iam desmoronando uma a uma, e ele sentia-se tolo por ter depositado inúmeras ilusões em um amor tão vago, tão etéreo... Mas a amava de qualquer maneira, e isso o fazia seguir em frente. Talvez fosse aquele o fim de uma história que por ter começado mal, tinha a obrigação de terminar bem...
Focava-se em pensar que nem tudo era como gostaria que fosse, enquanto passos atrás, ela vinha abraçada à idéia de uma possível reconciliação. Assim que a poeira abaixasse, que o coração acalmasse e que a saudade provasse aos dois que não resistiriam muito tempo separados... Eles iriam se reencontrar (...)


Ouvindo: Hole in my soul - Aerosmith

2 comentários:

Anônimo disse...

Nuss! Aguardando a continuação... Muito esperada pois esses primeiros foram totalmente emocionando, ainda mais de quem conhece a história!!!

Vai Luma - Arrasa!

Anônimo disse...

Como não conheço a história, posso apenas dizer que está muito bem escrita (para alguém sem uma boa capacidade interpretativa, até difícil de ler).
E só uma dúvida: "Gostava dele, de fato. Mas não podia negar ao próprio ego a sensação de liberdade e falsa segurança à que estava habituado."
Como concluí que a história se trata de um homem e uma mulher, creio que no lugar de "habituado", deveria constar "habituada".
Até logo.