quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

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Nada. Recuou e espiou pelos ombros uma última vez, quem sabe agora não estaria ali a espreitá-la, aguardando o momento certo para dar o bote... Nada. Desfez suas malas, já não precisava carregar tanto peso. Dobrou e guardou tudo nas gavetas do seu coração. Teve que tomar uma dose extra de coragem pra encaixotar as esperanças, e foi como se estivesse embalando a ela mesma, tal foi a falta de ar que sentiu quando lacrou a última fresta. Agora não podia escapar, não havia maneira. Enxugou as lágrimas e fez do choro do céu o seu. Eram as chuvas de verão a consolando e soprando em seu ouvido que era permitido chorar, que o sol havia se compadecido de suas dores e permitido que ela sofresse antes de continuar. Mas ela não queria. Queria não conhecer as palavras e os sentimentos. Queria calar-se para sempre... Queria correr. E correu. Correu o máximo que pôde. Em silêncio, gastou todas as forças que ousaram escapar dos armários, dos caixotes, do coração. E quando já não podia suportar a solidão da sua alma gritou para quem quisesse ouvir: "Eu existo", e então deixou de existir para si mesma.

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