quarta-feira, 11 de maio de 2011

Alergia.

Alergia na alma é um porre.
No meu caso, dá coceira e sufoca. Impede de respirar, transforma as noites em batalhas épicas diárias e quase me faz rasgar a pele de tanta irritação.
Quando ela ataca, tudo irrita mesmo, reage. O corpo tenta expulsar mas a cabeça não permite.
Alergia na alma, pra aqueles que vivem, de fato, é um porre iminente. A ressaca é inevitável. Os colaterais são cortesias e o desespero acaba por ser opcional (o costume é uma invenção traiçoeira da humanidade).
As causas são conhecidas, vizinhas e muitas vezes, convidadas. É a política do mínimo esforço, máximo desgosto. Quem é que ousado o suficiente pra se preocupar com o além-mar da própria vida?
"Melhor inventarem um novo e revolucionário remédio pra essa minha alergia, já estou de porre."
Aqui vai um conselho totalmente infundado (mas inundado de sinceridade): melhor tentar curar a alergia por homeopatia, holística ou medidas caseiras do que esperar por uma solução genial do Dr. House. É muito mais fácil se recuperar de um porre do que de uma cirrose hepática.
E não é exagero, é uma triste dedução.
Preciso urgentemente desacomodar e seguir o meu próprio conselho. Vou ali comprar uma tonelada de chás.

domingo, 1 de maio de 2011

A crônica torta.

- Cara, eu andei com muita pena de mim mesmo. Pô, bixo, era tanta merda acontecendo ao mesmo tempo que eu pensei que Deus tinha me pegado pra Cristo...
- Sem piadinhas com Ele, Augusto...
- Sem nóia, na moral! Veio a calhar que eu tropecei no buraco aquele dia na Sé.
- Chuvarada e ela te esperando lá em Jabaquara...
- Se eu não tivesse caído talvez não me levantasse jamais como me levantei: cheio de mim, disfarçando a dor e pensando nela mais do que em qualquer coisa nessa vida...
- Mas no fim das contas foi só um tombaço, Meu, sem drama.
- Tô tentando te explicar de um jeito simples, com uma dessas metáforas da vida cotidiana, que pra ressaca da alma não tem remédio melhor do que um bom tropeço no meio do caminho.
- Você é maluco.
- Pode ser... Devem ser essas várias cervejas que a gente tomou pra comemorar a mão santa do Ronaldo.
- Sensacional! Três pênaltis. Eu quase não acreditava que esse poderia ser nosso...
- De qualquer forma, ela me pareceu muito mais linda e apaixonante quando me abriu aquele sorriso na terça-feira... Foi depois de cair, meio sem jeito e torto, que eu percebi que a sorte era quase que como a minha sombra.
- Ainda não saquei, Cara...
- Eu tropecei porque a Jaque não gosta de passar o cadarço do jeito certo, e mesmo assim ela passou. Entende?
- Você é mesmo maluco, ou bêbado...
- Eu percebi que no meio de toda essa gente com pressa eu fui capaz de encontrar alguém interessado em andar mais devagar. E que cabelo lindo que ela tem...
- Desisto...
- Não, sério! Pode reparar. Ela passa o cadarço do all star branco de um jeito todo doido. No começo eu achava engraçado, mas depois eu entendi que ela fazia de próposito: não gostava de estar 100% confortável enquanto andava. Me explicou que o conforto em excesso faz com que a gente se acomode e ande rápido demais. E tem tanta coisa bonita por ai só pedindo pra ser vista...
- Vocês foram feitos um pro outro mesmo.
- Ninguém antes tinha pensado em dividir a beleza do mundo comigo do jeito que ela pensou. E eu descobri o quanto você tem que gostar de uma pessoa pra fazer com que ela tropece nos próprios pés. Eu acho que amo aquela desparafusada...
- A saideira?
- Por ela eu trançaria mil cadarços, todos do pior jeito possível...



"Eu entro nesse barco, é só me pedir. Nem precisa de jeito certo, só dizer e eu vou (...). Eu abandono tudo, história, passado, cicatrizes. Mudo o visual, deixo o cabelo crescer, começo a comer direito, vou todo dia pra academia (...). Mas você tem que remar também. Eu desisto fácil, você sabe. E talvez essa viagem não dure mais do que alguns minutos, mas eu entro nesse barco, é só me pedir. Perco o medo de dirigir só pra atravessar o mundo pra te ver todo dia. Mas você tem que me prometer que vai remar junto comigo. Mesmo se esse barco estiver furado eu vou, basta me pedir. Mas a gente tem que afundar junto e descobrir que é possível nadar junto. Eu te ensino a nadar, juro! Mas você tem que me prometer que vai tentar, que vai se esforçar, que vai remar enquanto for preciso, enquanto tiver forças! Você tem que me prometer que essa viagem não vai ser a toa, que vale a pena. Que por você vale a pena. Que por nós vale a pena. Remar. Re-amar. Amar".

[Caio Fernando Abreu]